quinta-feira, outubro 03, 2013

A Graça Barata...

Muitas pessoas buscam o conforto psicológico da religião entoando o mantra “Deus é amor”. Mas Deus também é “um fogo consumidor”. A compaixão de Jesus tem sido confundida com aceitação. A maravilhosa graça se esfarela em cortesia banal. A misericórdia se confunde com complacência. Será que não estamos pregando um Cristo sem cruz?

Muitos sermões são ofertados como se a igreja fosse um restaurante que deve conquistar o paladar dos seus clientes. Não precisamos de clérigos semeando frases de autoajuda; sacerdotes motivadores da auto satisfação; animadores de auditório ocupando o púlpito ou fiéis se auto justificando no mantra do “Deus é amor”. Precisamos de homens e mulheres trilhando o caminho da transformação. Não devo aprender a amar mais a mim mesmo, mas a morrer para que Cristo viva em mim. Não quero a cumplicidade com os meus pecados, mas a luta diária para vencê-los. Não quero o cobertor elétrico sobre os meus erros, mas o inverno asfixiante derrubando todas as folhas com as quais me cubro.

Não minimizo a famosa frase “Deus é amor”. Sou totalmente dependente desse amor. Mas, eu amo Deus? Se eu continuo acariciando os meus pecados, eu não O amo. Se eu não confronto e enfrento os meus pecados, preferindo afagá-los debaixo do edredom da misericórdia, recostado no travesseiro da graça sobre o aconchegante colchão do amor de Deus, não estou demonstrando que amo a Deus, mas que utilizo o amor de Deus para justificar a minha iniquidade. A anestesia evita a dor, mas não cura a doença. É preciso um tratamento muito mais profundo.

O teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, escreveu: “A graça barata é inimiga mortal de nossa Igreja. A nossa luta trava-se hoje em torno da Graça preciosa que é um tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende tudo que tem (…) o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga suas redes e segue (…) o dom pelo qual se tem que orar, a porta a qual se tem que bater.”

A fé não é um produto de consumo ou um intoxicante espetáculo emocional. A fé estéril não dedilha as cordas da consciência, anuncia o perdão sem a necessidade do arrependimento e proclama um Cristo sem a cruz. Cristo não nos chamou para a estática pronúncia do “eu creio”, mas para a transformadora jornada que começa no “eu creio” e segue adiante tocando outras vidas.

© Samuel Rezende

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