segunda-feira, agosto 05, 2013

A Sopa Populista

      Temo que estejamos vendendo o Evangelho por um prato de sopa populista. Jesus morreu porque agiu como o Filho de Deus encarnado, falou como o Filho de Deus encarnado e não negou a acusação de que o mundo o odiava por ser o Filho de Deus encarnado.
      Vendemos o Evangelho quando anunciamos o que agrada a multidão: o cristo revolucionário, o cristo da prosperidade, o cristo que não exige compromissos, o cristo que não se importa com nada conquanto o indivíduo esteja feliz. O cristo da cultura é insípido, conivente, bonachão.
            Onde está o Cristo que vira a mesa dos vendilhões do templo, o Cristo que repudia a mera opinião a seu respeito, o Cristo que alerta dizendo que se “alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”.
          Muitas pessoas aceitam o cristo que lhes apetece, o cristo de clichês humanistas, aparando as garras do Leão de Judá. Entretanto, esse cristo não é o Cristo do Evangelho. Esse mero cristo lhe conduzirá a um mero céu, mas não a Eternidade.
            Sinto muito, mas se o Cristo que cremos e anunciamos não nos torna confrontadores da cultura dominante e, por consequência, uma persona non grata, há que se analisar se este é o Cristo bíblico: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia... Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”.
         Não estou defendendo a imagem de um cristão soturno balançando o sino de alerta contra a decadência cultural. Mas também não podemos nos contentar com o mero crítico da igreja e o cristão que recende legalismo; o filósofo que concluiu que todos os problemas se resumem a epistemologia e o cristão liberal cujo evangelho se resume a tolerância e diálogo; o cristão pacificador que tenta solucionar todos os conflitos e o revisionista tentando adaptar o Evangelho aos padrões de uma sociedade em decomposição.
        Quem foi que disse que seguir a Cristo seria algo fácil? Se uma pessoa imagina que o cristianismo não passa de doce de leite ou coalhada com mel, simplesmente não entendeu o que é cristianismo. Jesus aconselhou: “Sede simples como as pombas, e prudentes como as serpentes”. Acontece que ao mesmo tempo em que há uma dificuldade explicita também há uma facilidade implícita: o próprio Deus está ao nosso lado nos sustentando no caminho.
           Devemos buscar o ponto de equilíbrio notando que há muita coisa para se corrigir na igreja, mas também há muito a se aprender nos relacionamentos com outros cristãos; que a cultura é anticristã e não devemos nos acomodar a ela, mas que podemos extrair pedras preciosas no meio do cascalho; que há muitos motivos para se lamentar, mas também há inúmeros momentos para se desfrutar a beleza do mundo.
            O escândalo do cristianismo é que existe apenas um caminho. A boa notícia é que, apesar de toda a nossa teimosia, egoísmo e pecado, ainda há um caminho.

(Trecho do livro “Um Grito de Ausência” © de Samuel Rezende)

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