segunda-feira, agosto 12, 2013

A Assinatura do Artista

Estremeço quando medito na grandeza do universo, ínfima amostra da grandeza de Deus. Nuvens patinam no céu, estrelas permanecem penduradas no firmamento, linhas abstratas voam nas asas das borboletas, cores faiscantes emolduram as penas dos pássaros, peixes iluminados deslizam pelos oceanos.
A beleza, criatividade e alegria de Deus esparramam-se pela natureza aguardando que o distraído ser humano possa observá-la mais de perto. Mas o entediado não tem mais tempo para as coisas comuns. Vive tão absorto nos afazeres da vida que não consegue vislumbrar as sombras da Realidade maior, a assinatura do Artista em sua obra.

Muitas pessoas se alimentam sem prestar atenção em cada sabor especifico; as músicas mais “tocadas” carregam mensagens niilistas, sexualidade e a felicidade a qualquer preço; não é a toa que os livros mais vendidos são os de autoajuda. Uma subnutrição mental, espiritual e visual paira sobre a cabeça do homem pós-moderno. As vozes do culto ao eu reverberam nas manifestações artísticas; são vozes estridentes até mesmo dentro das igrejas. 

É uma questão de observar, alertou Jesus. Ele também falou sobre o olho – o olho é o que espalha a luz pelo corpo. Quando os nossos olhos fitam as coisas erradas, a escuridão vem fazer morada em nosso ser.  Quando os nossos olhos estão afiados, somos inundados pela luz – passamos a prestar atenção nos detalhes e belezas que nos cercam.

Isso me faz lembrar do filme “Além das Nuvens” do diretor Michelangelo Antonioni. Num bar em Paris durante o dia, uma jovem se aproxima de um homem de meia-idade e diz que tinha lido uma coisa fantástica numa revista e precisava falar disso com alguém. Era o seguinte: no México, cientistas contrataram carregadores para levá-los ao cume da montanha de uma cidade inca. A certa altura, os carregadores não quiseram mais prosseguir. Os cientistas, irritados, não sabiam mais como fazê-los seguir adiante. Não entendiam os motivos de uma parada tão prolongada.


Após algumas horas, os carregadores recomeçaram a andar e, finalmente, o chefe deles deu uma explicação: eles tinham corrido muito e estavam esperando suas almas chegarem. A moça que contou esta história comentou: “É fantástico, porque também corremos atrás de nossas coisas e perdemos nossas almas. Devíamos esperar”.

Realmente, corremos atrás de tantas coisas que nossas almas não conseguem enxergar a estonteante beleza do universo.. 

(Trecho do livro "Um Grito de Ausência" © de Samuel Rezende)

Nenhum comentário: