segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Observar

Uma garoa desce sobre a cidade. Um homem está debaixo da árvore em frente a minha casa. Não sei se está usando a árvore como um guarda-chuva ou se está esperando alguém. Ele assobia e me faz lembrar a canção “Lovely chef” do Alison Goldfrapp. Um assobio melancólico acompanha o início da música, levando os pensamentos à borda do mundo.
Talvez seja fruto da timidez, o gosto por observar as outras pessoas. Algumas vezes elas parecem sonâmbulas, embrulhadas num universo singular, entre os sons e o fluxo.
            A garoa me faz lembrar um vôo entre São Paulo e Cuiabá. O aeroporto está lotado, pessoas e ruídos frenéticos se misturam. Lá fora uma garoa molha a pista. Atrasos e cancelamentos de vôo são comunicados. Dentro do avião um nó no estômago parece encontrar eco em todo o corpo. A aeromoça mostra os habituais lembretes para procedimentos de emergência. A grande nave abre caminho para a posição de decolagem, os jatos estridentes aceleram. A íngreme subida é áspera, nuvens parecem ser rasgadas ao meio. Aos poucos o avião está nivelado, olhando para baixo, as nuvens parecem pastagens com ranhuras. Dentro de alguns minutos a turbulência será esquecida e a placidez de um solo branco a se perder de vista, atrai a atenção.
            Quem sabe o último momento seja assim. O temor desaparece em questão de momentos, então se desvenda a escondida paisagem da paz. ©

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