segunda-feira, julho 22, 2019

Namorados Para Sempre?


         "Namorados Para Sempre" é o título nacional do filme “Blue Valentine”, o retrato de um relacionamento em desintegração. Acompanhamos a trajetória de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling), antes e quando se conheceram, se amaram e fizeram seus planos de vida em comum.
         A maioria dos filmes concentra-se no início do relacionamento, na zona de conforto ou na separação, mas raramente se percebe onde o amor morreu. Blue Valentine revela o momento da morte.
         No início do filme, Cindy diz: “Como você pode confiar em seus sentimentos quando eles simplesmente desaparecem?”. Já se percebe a incompreensão do que significa “amar”. Ela era mais uma vítima da confusão entre paixão e amor. Em algum momento o sentimento mudará e se você não entender e acompanhar a variação, todo e qualquer relacionamento estará fadado ao fracasso.
         Por outro lado, Dean diz: “Conheço garotas que esperam o príncipe encantado e depois se casam com o cara que tem um bom emprego e não estará por perto”. 

         Sobre esse terreno visivelmente arenoso constrói-se uma espécie de amor à primeira vista da parte dele e o amor fundamentado na segurança que ela vê, pois está grávida. 
         O desgaste do tempo, da convivência, das expectativas frustradas, da ausência de diálogo, dos mal entendidos, se avoluma até que ele decide passar a noite num quarto temático de um motel. Ela não quer, mas resignada o acompanha. Eles não fazem amor, é uma relação sexual tensa e triste. O amor está morto. Ele ainda a ama, mas ela não sente mais a faísca arrasadora. Na verdade, ela parece que nunca o amou. Ela estava desesperada, grávida e temendo o futuro. E Dean, com seu jeito alegre e audacioso a abraçou. 

         A crise chega ao ponto de ruptura. Dean parecia ver o casamento como um cais, um lugar fixo, imóvel. Ele queria apenas “viver”, se contentava com pouco, se contentava com amar. Cindy parecia imaginá-lo como um navio em movimento. Ela queria crescer, conquistar, isso lhe transmitia segurança.
        
A canção "You Hurt The One You Love" pontua o enredo: 

Você sempre machuca aquele que ama
Aquele que você nunca deveria machucar
Você sempre pega a mais bela das rosas
E a esmaga até as pétalas caírem
Você sempre quebra o coração mais carinhoso
Com palavras impensadas que não se pode retirar
Então se eu quebrei seu coração ontem à noite
É porque eu te amo mais que tudo

         Não se trata de um filme agradável, divertido, mas de uma obra instigante, melancólica, que casais deveriam assistir para tentar evitar que o relacionamento chegasse ao ponto de ruptura. Num mundo de amor líquido é possível evitar o naufrágio? O filme não responde a essa pergunta, ele não se reveste de uma consulta ao terapeuta, mas de um obituário, e assisti-lo pode levar a reflexão e consequente ação em conjunto ou isoladamente.

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