sexta-feira, setembro 27, 2013

Dependência

O texto de Lucas 18:9-14 é o manual “Treinado para pecar”. O fariseu havia sido treinado para uma justiça que escorrega para a auto-justificação. Pecado não é apenas quebrar determinadas regras, mas também tentar ser o que não somos. No pecado, o ponto fundamental é o auto-engano. O texto fala de um homem que cumpria os deveres, mandamentos e regras, e um homem de vida desregrada.
            O homem correto era do círculo religioso dos fariseus, um movimento reformador do judaísmo, que ajudou a preservar a fé durante momentos tumultuados. Eles resistiram a cultura romana e helenista, levavam a sério a Bíblia e estenderam o significado da Torá a todos os aspectos das suas vidas.             
            O fariseu era o membro que a maioria das igrejas gostaria de ter. Muitos pastores o tratariam de forma especial, pois dava o dízimo de tudo. Então, “ele se achava!”. E ousou se comparar com aquele miserável que, batendo no peito, dizia simplesmente: “Ó, Deus, tenha misericórdia de mim, pecador!”. É o que T. S. Eliot chamou: “a purificação da razão / Na terra das nossas súplicas”.
Sempre que leio este texto lembro-me do Rei Davi. Um homem que ocupava o mais alto cargo da nação, mas que conhecia o seu verdadeiro lugar na ordem das coisas: “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniqüidade e purifica-me do meu pecado” (Sl. 51:1,2). Talvez o pecador também se lembrasse desse salmo.
            Então veio o golpe fatal. Jesus conclui a parábola dizendo que o pecador, e não o fariseu, foi para casa, justificado. O fariseu com sua retidão não entendeu nada sobre o efeito do pecado no coração humano. O pecador, ao reconhecer o seu lastimável estado, trilhava o caminho dos céus.
            A igreja está cheia de fariseus que medem o seu grau de santidade comparando com o dos outros. Pobres tolos! Dependência. Esta é a palavra-chave.  O verdadeiro santo sabe da enorme distância que o separa do ideal divino, por isso prostra-se humildemente, sabendo que é dependente da graça de Deus.
(Trecho do livro "Um Grito de Ausência" © de Samuel Rezende)

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