sexta-feira, outubro 07, 2011

A Criação

O homem ocupa um espaço entre os animais e os anjos, é um peregrino investigando a sua jornada, e que encontra a salvação não na ciência ou na filosofia, mas em um evento histórico que envolve uma pessoa.
            O homem é o único amador, todos os outros são profissionais. Eles não têm lazer e não o desejam. Quando a vaca acaba de comer, ela rumina; quando ela termina a mastigação, ela dorme; quando ela acorda, ela come novamente. Ela é uma máquina que transforma capim em vitelos, leite e bezerros. O leão não pode abandonar a caça, o castor não desiste da árdua missão de construção de barragens, nem as abelhas ignoram a produção de mel.
            De todos os fantasmas que assombram o cosmos, dentre bilhões de objetos estranhos no universo – quasars, pulsars, buracos negros – o ser humano é o mais estranho.
            Eu não sou nenhum cientista, sou apenas um peregrino com um pé na teologia e um amor por palavras. Como um pensador eu tento descobrir que a beleza é mais do que um fato, um mistério. Eu gosto da natureza – das coisas belas e grotescas. Na natureza eu encontro o enredo da graça e o êxtase da violência; a paisagem intrincada revelada na morte; o mistério, a novidade e um tipo de exuberância nostálgica.
            Ali habita o mistério da criação contínua e a variedade imensurável de cores e formas. A incerteza da visão, o horror do fixo, a dissolução do presente, a beleza imensurável, a pressão da fecundidade, a ilusória natureza livre e a perfeição danificada.
            A paisagem revela a beleza extravagante da criação. A criação faz a conexão da eternidade com o tempo, em intrincadas malhas que refrigeram os olhos. Você não precisa de iscas, ganchos e redes; basta se maravilhar. ©

4 comentários:

Jorge Oliveira disse...

Voltou à vida digital, amigo Samuel?
Espero que seja para continuar!
:)
Abraço.

Teorema Editora disse...

Oi, Jorge. É, como um salmão voltando as origens, trazendo uma bagagem de textos mais curtos e sugestões de filmes e livros. Abraços

Ana Maria Ribas disse...

É simples assim: basta nos maravilharmos. Perdemos a capacidade de nos maravilharmos porque nos acostumamos com as maravilhas de Deus. Os dois posts que li me remeteram a esse fato. E como nós esritores escrevemos primeiramente para nós e depois para os outros, penso que vc deve estar num período de grandes maravilhas.

Teorema Editora disse...

Ana, o teu comentário "um poder que nos esmaga até que o fruto vire semente e a semente produza frutos", reflete a minha vida. Essa "prensa" me acompanha ao longo dos anos.
Os trechos que escolhi para postar, refletem temas que desenvolvi nos últimos livros.
E, confesso, ainda estou sob os efeitos do filme "A Árvore dA Vida", do episcopal Terrence Malick. Um filme incompreendido por quem tem pouca familiaridade com o universo cristão. Malick transita entre o apóstolo Paulo, Agostinho, Tomás de Kempis, Tomás de Aquino e Bulgakov, imagens exuberantes do universo, tudo temperado com Brahms, Gorecki, Berlioz, Bach.
Uma grande oportunidade de se maravilhar.