quarta-feira, setembro 14, 2011

O Silêncio ao Amanhecer

Há algo no silêncio nos momentos que antecedem o amanhecer que sempre nos cativa – um profundo suspiro antes do esplendor do dia brotar como o som de uma retumbante trombeta. É um silêncio que encontra eco na fundação do universo quando a primeira música foi cantada. É uma pausa que parece direcionar-se para o mundo em preparação para os desafios que se avizinham, uma pausa entre os sonhos de ontem para as realidades do dia. Os cantos noturnos dos grilos já cessaram, o vento da madrugada sopra com insondável tranqüilidade envolvendo-nos como uma canção de ninar, como uma serenata para um coração que cochila. Há uma paz que possibilita ouvir uma canção harmônica, um convite para retornar ao útero como se voltássemos a um abraço. É o silêncio de Deus cujas palavras se tornaram a base de tudo que foi criado e construído. É o silêncio da sua profunda satisfação – e viu Deus que era bom. É o silêncio da alma que finalmente chega em casa e encontra descanso.
            Como uma névoa, misteriosa e profunda, este silêncio irá desaparecer. Logo o movimento do mundo irá romper essa fina membrana de tranqüilidade. Em breve a correria e a fadiga da vida irá se intrometer. O confronto das exigências e necessidades irá perturbar o ambiente. Dor, desconforto e stress é o emblema do mundo que nos rodeia.
            Gostaria de congelar a calma no abraço do momento sagrado, não me atrever a sair para o barulhento mundo. Mas nós não somos criados só para Schumann, mas também para a existência e à luta na dureza do sol – não devemos apenas celebrar a tranqüilidade do seu amor, mas trazer esse amor para um mundo que é cruel e cheio de dor. ©

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