sábado, maio 07, 2011

Encontro

É preciso abrir-se ao “milagre” do encontro, ao extremo do possível. O materialismo trabalha continuamente para tapar as fissuras por onde pode passar a graça, asfixiando o olhar.
Hoje, como Simone Weil, peço a Deus que me liberte de Deus. Ou seja, que me liberte da falsa imagem de Deus que, influenciado ou não, acabei criando. Deus renunciou a si mesmo, na expressão bíblica “esvaziando-se”, para poder encarnar. Eu também preciso renunciar a algo. Só se possui aquilo a que se renuncia. Começava, naquele momento, o Deus que renuncia até que o ápice fosse atingido na vida de Jesus. Deus aproxima-se como o irmão comum.
Gosto das palavras de Weil: “É Deus quem por amor se retira, a fim de que possamos amá-lo... mediante a noite escura, se retira para não ser amado como o tesouro pelo avaro... E não quer que o amemos como o avarento ama o seu tesouro, porque o tem perto, possuído”. Amamos em verdade e espírito quando acreditar nele não nos traz nenhum benefício.
            Deus é o que aceita o combate, e na aceitação se enfraquece para não provocar a destruição do oponente, mas também é aquele que a qualquer momento pode revelar-se como possuidor de um poder infinito.
            Certo dia estava na praia de Cabo Frio (RJ), era uma tarde agradável com sol, algumas aves mergulhavam na superfície do mar e subiam novamente, fiquei ali acompanhando a calma, bonita e indiferente quietude das marés.
            Sim, indiferente. O pensamento que nada disso importa. A impenetrável transcendência de uma tarde gloriosa.
            Será que tenho domesticado Deus ao imaginá-lo centrado no planeta terra quando existem milhares de estrelas no universo? Criei a imagem de uma deidade intervencionista na minha alma? Ele é, em última análise, este silencioso murmurar de ausência do planeta, exceto em momentos ocasionais, quando entrou em cena interrompendo o fluxo natural de uma forma que podia ser ignorada, pregado em uma cruz com os pulsos perfurados, literalmente, abandonado?
            Para os cristãos, Deus pode ser mais bem vislumbrado em Jesus Cristo. Jesus ressaltou que nem uma folha cai de uma árvore sem o olhar atento de Deus. A terrível consciência da santidade de Deus é um trabalho do Espírito Santo, sacudindo a nossa propensão ao comodismo, mantendo uma tensão que nos torna mais suscetível a notar a doçura de Jesus Cristo. ©

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