Muitas pessoas buscam o conforto psicológico
da religião entoando o mantra “Deus é amor”. Mas Deus também é “um fogo
consumidor”. A compaixão de Jesus tem sido confundida com aceitação. A
maravilhosa graça se esfarela em cortesia banal. A misericórdia se confunde com
complacência. Será que não estamos pregando um Cristo sem cruz?
Muitos sermões são ofertados como
se a igreja fosse um restaurante que deve conquistar o paladar dos seus
clientes. Não precisamos de clérigos semeando frases de autoajuda; sacerdotes motivadores
da auto satisfação; animadores de auditório ocupando o púlpito ou fiéis se auto
justificando no mantra do “Deus é amor”. Precisamos de homens e mulheres trilhando
o caminho da transformação. Não devo aprender a amar mais a mim mesmo, mas a
morrer para que Cristo viva em mim. Não quero a cumplicidade com os meus
pecados, mas a luta diária para vencê-los. Não quero o cobertor elétrico sobre
os meus erros, mas o inverno asfixiante derrubando todas as folhas com as quais
me cubro.
Não minimizo a famosa frase “Deus
é amor”. Sou totalmente dependente desse amor. Mas, eu amo Deus? Se eu continuo
acariciando os meus pecados, eu não O amo. Se eu não confronto e enfrento os
meus pecados, preferindo afagá-los debaixo do edredom da misericórdia, recostado no travesseiro
da graça sobre o aconchegante colchão do amor de Deus, não estou demonstrando que amo a Deus,
mas que utilizo o amor de Deus para justificar a minha iniquidade. A anestesia
evita a dor, mas não cura a doença. É preciso um tratamento muito mais
profundo.
O
teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, escreveu: “A graça barata é inimiga
mortal de nossa Igreja. A nossa luta trava-se hoje em torno da Graça preciosa
que é um tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende tudo que
tem (…) o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga suas
redes e segue (…) o dom pelo qual se tem que orar, a porta a qual se tem que
bater.”
A fé não é um produto de consumo
ou um intoxicante espetáculo emocional. A fé estéril não dedilha as cordas da
consciência, anuncia o perdão sem a necessidade do arrependimento e proclama um
Cristo sem a cruz. Cristo não nos chamou para a estática pronúncia do “eu creio”,
mas para a transformadora jornada que começa no “eu creio” e segue adiante
tocando outras vidas.
© Samuel Rezende
© Samuel Rezende
Nenhum comentário:
Postar um comentário