Temo
que estejamos vendendo o Evangelho por um prato de sopa populista. Jesus morreu
porque agiu como o Filho de Deus encarnado, falou como o Filho de Deus
encarnado e não negou a acusação de que o mundo o odiava por ser o Filho de
Deus encarnado.
Vendemos o Evangelho quando
anunciamos o que agrada a multidão: o cristo revolucionário, o cristo da
prosperidade, o cristo que não exige compromissos, o cristo que não se importa
com nada conquanto o indivíduo esteja feliz. O cristo da cultura é insípido, conivente, bonachão.
Onde
está o Cristo que vira a mesa dos vendilhões do templo, o Cristo que repudia a mera
opinião a seu respeito, o Cristo que alerta dizendo que se “alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; porque
tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo”.
Muitas
pessoas aceitam o cristo que lhes apetece, o cristo de clichês humanistas,
aparando as garras do Leão de Judá. Entretanto, esse cristo não é o Cristo do Evangelho. Esse mero cristo lhe conduzirá a um mero céu, mas não a Eternidade.
Sinto muito, mas se o Cristo que cremos
e anunciamos não nos torna confrontadores da cultura dominante e, por
consequência, uma persona non grata, há que se analisar se este é o Cristo
bíblico: “Se o mundo vos odeia,
sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o
mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi
do mundo, por isso é que o mundo vos odeia... Se a mim me perseguiram, também
vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”.
Não
estou defendendo a imagem de um cristão soturno balançando o
sino de alerta contra a decadência cultural. Mas também não podemos nos
contentar com o mero crítico da igreja e o cristão que recende legalismo; o
filósofo que concluiu que todos os problemas se resumem a epistemologia e o
cristão liberal cujo evangelho se resume a tolerância e diálogo; o cristão
pacificador que tenta solucionar todos os conflitos e o revisionista tentando
adaptar o Evangelho aos padrões de uma sociedade em decomposição.
Quem foi
que disse que seguir a Cristo seria algo fácil? Se uma pessoa imagina que o
cristianismo não passa de doce de leite ou coalhada com mel, simplesmente não entendeu o que é cristianismo. Jesus aconselhou: “Sede simples como as
pombas, e prudentes como as serpentes”. Acontece que ao mesmo tempo em que há
uma dificuldade explicita também há uma facilidade implícita: o próprio Deus
está ao nosso lado nos sustentando no caminho.
Devemos
buscar o ponto de equilíbrio notando que há muita coisa para se corrigir na igreja,
mas também há muito a se aprender nos relacionamentos com outros cristãos; que
a cultura é anticristã e não devemos nos acomodar a ela, mas que podemos
extrair pedras preciosas no meio do cascalho; que há muitos motivos para se
lamentar, mas também há inúmeros momentos para se desfrutar a beleza do mundo.
O escândalo do cristianismo é que
existe apenas um caminho. A boa notícia é que, apesar de toda a nossa teimosia,
egoísmo e pecado, ainda há um caminho.
(Trecho do livro “Um Grito de Ausência” © de Samuel Rezende)
Nenhum comentário:
Postar um comentário