Os
céticos costumam dizer que a religião é uma muleta. Ora,
se a religião é uma muleta, qualquer coisa serve como muleta, então o problema não reside na religião, mas no indivíduo.
O
mais estranho é o indivíduo, sofredor por excelência, buscar consolo em algo
que exige mais do que é capaz de suportar, levando o escritor Tolstói ao desespero: “Não julguem os
santos ideais de Deus pela minha incapacidade de alcançá-los. Não julguem
Cristo por aqueles de nós que imperfeitamente usam o seu nome... Se conheço o
caminho para casa e estou andando por ele como um bêbado, ele não deixa de ser
o caminho certo apenas porque estou cambaleando de um lado para outro! Se não é
o caminho certo, então me mostre outro caminho; mas se cambaleio e perco o
caminho, você deve ajudar-me, você deve manter-me no caminho verdadeiro,
exatamente como estou pronto a apoiar você. Não me desencaminhe, não se alegre
porque me perdi, não grite de alegria: ‘Vejam-no! Ele disse que está indo para
casa, mas ali está ele rastejando em um atoleiro’. Não, não se regozije com o
meu erro, mas me dê a sua ajuda e o seu apoio”.
A religião cristã transfere ao indivíduo a responsabilidade por seus atos e consequências. Nesse caso, o melhor consolo para o indivíduo seriam as respostas psicológicas, sociológicas ou científicas que costumam transferir a “outros” a responsabilidade individual. A crença no gene egoísta é consolo para fracos. Transfere-se para os genes a responsabilidade que deveria ser do indivíduo.
A religião cristã transfere ao indivíduo a responsabilidade por seus atos e consequências. Nesse caso, o melhor consolo para o indivíduo seriam as respostas psicológicas, sociológicas ou científicas que costumam transferir a “outros” a responsabilidade individual. A crença no gene egoísta é consolo para fracos. Transfere-se para os genes a responsabilidade que deveria ser do indivíduo.
Mas, consideremos que a birra dos céticos encontre escoadouro: a religião é uma muleta. A
muleta de Adão. A raça humana caminha com um coxear agonizante. Por isso, cada
um arrasta o seu velho Adão para fora da cama, escova os dentes, toma banho,
faz ele se vestir, coloca os sapatos em seus pés e vai manquitolando para a
igreja.
Espera-se
que se continuar arrastando o velho Adão à igreja, ele, eventualmente, poderá
tornar-se um cristão. E se ele se tornar um cristão – quem sabe? – talvez com o
tempo tornar-se-á um espécime raro, aprenderá a caminhar corretamente, ainda
que tropece de vez em quando.
Triste
não é usar a muleta que está à disposição, triste é preferir rastejar imaginando
caminhar elegantemente.
(Trecho do livro "Um Grito de Ausência" © de Samuel Rezende)
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