"Namorados Para Sempre" é o título nacional do filme “Blue Valentine”, o retrato de
um relacionamento em desintegração. Acompanhamos a trajetória de Cindy
(Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling), antes e quando se conheceram, se
amaram e fizeram seus planos de vida em comum.
A maioria dos
filmes concentra-se no início do relacionamento, na zona de conforto ou na
separação, mas raramente se percebe onde o amor morreu. Blue Valentine revela o
momento da morte.
No início do
filme, Cindy diz: “Como você pode confiar em seus sentimentos quando eles
simplesmente desaparecem?”. Já se percebe a incompreensão do que significa “amar”.
Ela era mais uma vítima da confusão entre paixão e amor. Em algum momento o sentimento
mudará e se você não entender e acompanhar a variação, todo e qualquer
relacionamento estará fadado ao fracasso.
Por outro
lado, Dean diz: “Conheço garotas que esperam o príncipe encantado e depois se
casam com o cara que tem um bom emprego e não estará por perto”.
Sobre esse
terreno visivelmente arenoso constrói-se uma espécie de amor à primeira vista
da parte dele e o amor fundamentado na segurança que ela vê, pois está grávida.
O desgaste do
tempo, da convivência, das expectativas frustradas, da ausência de diálogo, dos
mal entendidos, se avoluma até que ele decide passar a noite num quarto
temático de um motel. Ela não quer, mas resignada o acompanha. Eles não fazem
amor, é uma relação sexual tensa e triste. O amor está morto. Ele ainda a ama,
mas ela não sente mais a faísca arrasadora. Na verdade, ela parece que nunca o
amou. Ela estava desesperada, grávida e temendo o futuro. E Dean, com seu jeito
alegre e audacioso a abraçou.
A crise chega ao ponto de ruptura. Dean
parecia ver o casamento como um cais, um lugar fixo, imóvel. Ele queria apenas “viver”,
se contentava com pouco, se contentava com amar. Cindy parecia imaginá-lo como
um navio em movimento. Ela queria crescer, conquistar, isso lhe transmitia
segurança.
A canção "You Hurt The One You Love" pontua o enredo:
Você sempre machuca aquele que ama
Você sempre machuca aquele que ama
Aquele que você nunca deveria machucar
Você sempre pega a mais bela das rosas
E a esmaga até as pétalas caírem
Você sempre quebra o coração mais carinhoso
Com palavras impensadas que não se pode
retirar
Então se eu quebrei seu coração ontem à noite
É porque eu te amo mais que tudo
Não se trata de um filme agradável,
divertido, mas de uma obra instigante, melancólica, que casais deveriam
assistir para tentar evitar que o relacionamento chegasse ao ponto de ruptura. Num
mundo de amor líquido é possível evitar o naufrágio? O filme não responde a essa pergunta,
ele não se reveste de uma consulta ao terapeuta, mas de um obituário, e
assisti-lo pode levar a reflexão e consequente ação em conjunto ou
isoladamente.